Apicultura – Alternativa de Geração de Emprego e Renda
A apicultura é hoje considerada uma das grandes opções para a agricultura familiar por proporcionar o aumento de renda, através da oportunidade de aproveitamento da potencialidade natural de meio ambiente e de sua capacidade produtiva.
A apicultura é a arte de criar abelhas (Apis mellifera L.), com o objetivo de proporcionar ao homem produtos derivados como o mel, cera, geléia real, própolis, pólen, e, ainda, prestar serviços de polinização às culturas vegetais (Moreira, 1993).
No Brasil, esta atividade teve início em 1839 com abelhas “mansas” vindas da Europa e em 1956 foram introduzidas abelhas africanas, mais produtivas, porém mais agressivas. Estas abelhas acabaram cruzando com as européias, resultando as abelhas africanizadas (Mendes, 1999).
A ampla área territorial de nosso país, com variada diversificação vegetal e um clima tropical favorável à exploração apícola oferece condições de uma elevada produção. Apesar dessa atividade ainda ser pouco explorada, o mercado está em franca ascensão.
Ocupando a sétima posição no Brasil e a segunda no Nordeste, a apicultura é uma das atividades do setor agropecuário que mais cresce na Bahia, sendo responsável pela geração de cerca de 30 mil empregos diretos. No Estado existem hoje em torno de 150 mil colméias e 5 mil apicultores, espalhados em todo espaço geográfico (EBDA, 2002).
O mercado brasileiro de produtos apícolas está avaliado atualmente em US$ 360 milhões anuais, segundo dados da FGV – Fundação Getúlio Vargas, e as pesquisas demonstram um potencial de curto prazo para além de US$ 1 bilhão anual. Atualmente existem 14 federações, 200 associações em nível municipal ou regional e 160 empresas apícolas registradas no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) com Serviço de Inspeção Federal-SIF, mas ainda é muito pouco, não atingindo a 50% do potencial brasileiro, para mais de 2 milhões de apicultores existentes, nas diversas categorias, meladores, meleiros, apicultores amadores e profissionais.
O consumo de mel no Brasil está estimado em aproximadamente 200g/pessoa/ano, o que é considerado muito baixo se comparado a alguns países da Europa, como a Alemanha e Suíça, onde se calcula um consumo de 2.400g/pessoa/ano. O mercado apícola nacional é bastante atrativo, seu desenvolvimento é notável, porém sofre a influência do mercado internacional e principalmente do Mercosul.
O Brasil produz em média 40 mil toneladas de mel por ano, mas consome 60.000, gerando um déficit de produção de 20 mil toneladas por ano para o mercado interno, o que torna a apicultura um negócio rentável, principalmente porque estudos das principais associações brasileiras de produtores de mel indicam que existe potencialidade para se alcançar, sem muitos investimentos, 200 mil ton/ano.
Em 2002, o Brasil exportou US$ 23,1 milhões de dólares, o equivalente a 12,6 milhões de litros de mel, um crescimento excepcional se comparados com os 2,6 milhões de litros do ano 2001. Este aumento foi ancorado justamente nas barreiras impostas à China e à Argentina (neste caso, pelo uso de agrotóxicos e antibióticos). Os principais compradores do mel brasileiro foram os Estados Unidos e a Alemanha, que juntos adquiriram 11,5 milhões de litros.
Tabela 1 - Produção Mundial de mel em 1000 toneladas
FONTE: Braunstein, 2002.
A produção de mel de abelhas no Brasil, 1998 a 2001, segundo a FAO, demonstrou um crescimento gradativo nos anos de 1998 a 2000, e um decréscimo em 2001.
Tabela 2 - Produção Mel Brasil (1000/t)
FONTE: http://apps.fao.org/
O crescimento da apicultura no Nordeste tem se refletido em um aumento da produção de mel, que passou de 3.300 toneladas/ano em 1985, quando representava 11,8% da produção nacional, para 5.750 toneladas/ano em 1997, correspondendo a 20,7% da produção nacional. Enquanto que no país o crescimento da atividade apícola está em torno de 5% ao ano, no Nordeste esta marca chega aos 12,5% ao ano.
As principais dificuldades para o desenvolvimento da cadeia produtiva do mel estão na utilização de tecnologias impróprias para a produção, o baixo nível de organização dos produtores, falta de padronização e de boas condições higiênicas do produto, comercialização fragmentada e marketing desestruturado.
O Nordeste brasileiro possui um dos maiores potenciais apícolas do mundo, sendo que alguns estados também vocacionados para a produção de geléia real, própolis, pólen, cera e apitoxina, produtos que podem atingir preços superiores ao do próprio mel. A região também é uma das poucas do mundo com possibilidade de produzir o mel orgânico em grande quantidade, devido a grande diversidade florística e de microclimas, aliados às vastas extensões ainda inexploradas e isentas de atividade agropecuária tecnificada, à existência de extensas áreas onde não se utilizam agrotóxicos nas lavouras, fazem dessa região a de maior potencial para a produção de mel orgânico em todo o mundo, produto este bastante procurado e valorizado no mercado internacional.
APICULTURA DO SUL DA BAHIA
A apicultura no sul da Bahia teve dois marcos históricos bastante diferenciados, antes e depois da atividade ser orientada pela CEPLAC.
Pouca coisa tem a ser dita desta atividade antes do inicio das orientações da CEPLAC, a não ser que a mesma era praticada por poucos e isoladamente, onde muitos tinham na criação de abelhas uma atividade de lazer ou voltada para a produção de mel visando o consumo familiar e o excedente para doação a amigos e vizinhos e poucas técnicas eram empregados no manejo das colméias.
Os últimos 10 anos, o crescimento da atividade é algo extraordinário, já são 16 associações de apicultores e uma cooperativa. São 1.200 pessoas ligadas diretamente com a atividade. A diversidade da flora apícola, em diversos ecossistemas no sul da Bahia vem permitindo a exploração do mel, pólen e da própolis.
A CEPLAC, através do seu Centro de Pesquisa realizou, nesses últimos 10 anos diversos trabalhos científicos, procurando desta forma fortalecer as ações dos produtores, onde pode destacar:
- Identificação de plantas de interesse apícolas do litoral e de áreas de transição;
- Caracterização física e química do mel, pólen e da própolis;
- Atratividade de caixas iscas na capturas de exames silvestres;
- Estudo da viabilidade da apicultura no município de Linhares no Estado do Espírito Santo;
- Melhoramento e produção de abelhas rainhas;
- Estudo da viabilidade econômica, técnica e ambiental dos manguezais.
Na área de extensão desenvolveu ações que possibilitaram o excremento da produção e o de produtores em todos o sul da Bahia, onde se destaca:
- Treinamento de 2.800 produtores em parceria com o SENAR, através dos Sindicatos Rurais e SEBRAE;
- Incentivo e participação efetiva na criação de associação e cooperativa. Em Canavieiras, grande pólo de produção de pólen, foi criada a primeira cooperativa de produtores de pólen do Brasil, a COOPERPÒLEN;
- Idealizou e realizou o 1o Congresso Baiana de Apicultura;
- Idealização, em parceria com o SEBRAE - Itabuna, do Seminário Nordestino de Pólen e Própolis que vem ocorrendo de dois em dois anos;
- Realização de Feira de Produtos Apícolas;
- Organização, em parceria com o SEBRAE-Itabuna, de caravanas de produtores a congressos nacionais;
- Colocou a disposição dos produtores treinamentos nas seguintes áreas:
Iniciação a Apicultura;
* Manejo de Colméias;
* Produção de Pólen;
* Produção de Própolis;
* Produção de Geléia Real;
* Seleção e Produção de Abelhas Rainhas;
* Produção de Compostos.
- Realização em parceria com o SEBRAE –Itabuna, de Vídeos Técnico:
* “Apicultura no sul da Bahia” – Premiado no Congresso de Apicultura realizado em Santa Catarina;
* “Produção de Pólen” – Premiado no Congresso de Apicultura realizado em Mato Grosso do Sul.
Outras ações de Destaque da CEPLAC na Apicultura
PROJETO DA CEPLAC EM PARECERIA COM ONU/FAO E SEBRAE ( Agência de Itabuna)
Visando a inserção social e econômica de famílias carentes a CEPLAC,com recursos da ONU/FAO e em parceria com o SEBRAE implantaram o projeto: Apicultura – Alternativa de Alimentação, Emprego e Rendano município de Santa Cruz da Vitória, onde 20 famílias selecionas, cuja renda familiar não passavam de um salário mínimo, encontraram na atividade apícola uma forma de melhorar a auto estima, ter uma profissão e serem respeitados na comunidade, tornando verdadeiros empreendedores. A produção de mel, na última safra foi de 4 toneladas, que em termos financeiros representou R$ 40.000,00 para o grupo. O sucesso do projeto motivou a vinda de representantes da FAO da Itália a região em 2003.
CENTRO REGIONAL DE APICULTURA DO SUL DA BAHIA – CRASB
Não poderíamos deixar, nesta oportunidade de comentar sobre a criação do Centro Regional de Apicultura do Sul da Bahia pela CEPLAC/CEPEC. É uma clara demonstração do avanço da atividade no sul a Bahia e da forte determinação dos dirigentes da CEPLAC com a geração de emprego e renda e a diversificação das propriedades agrícolas com atividades auto-sustentáveis e ambientalmente corretas.
O Centro Regional de Apicultura atuará em três vertentes:
1- Geração de tecnologia - Como se trata de uma atividade relativamente nova na região é importante o direcionamento das pesquisas que venha atender as demandas dos apicultores, para tanta o Centro de Apicultura estará voltada seus esforços para:
a. o melhoramento genético de abelhas rainhas o que levará o aumento da produtividade das colméias;
b. Investigações das propriedades químicas e biológicas da própolis vermelha;
c. Continuar no levantamento da flora apícola e
d. A adaptação de tecnologia já existentes em outras regiões.
2 - Transferência de tecnologia – O Centro irá dispor de sala de treinamento equipada, apiário modelo e equipamentos de beneficiamento, possibilitando a transferência de tecnologia para extensionistas e produtores de toda a região sul da Bahia.
3 - Beneficiamento de produtos apícolas – Nesta área o Centro estará desenvolvendo e testando equipamentos, e especial para o beneficiamento do pólen por se tratar de uma área nova no Brasil, cujos equipamentos existentes são inacessíveis aos pequenos produtores. O Centro também pretende beneficiar e envasar os produtos apícolas do micro e pequenos apicultores o qual receberão S.F.I. (Serviço de Inspeção Federal) ficando legalmente apto para serem comercializados em qualquer estabelecimento comercial. Atualmente o pequeno produtor comercializa seus produtos de forma clandestina ou vendendo para atravessadores. Esta última ação está sendo analisada pela assessoria jurídica da CEPLAC e caso não haja nenhum impedimento legal, será efetivada.
LITERATURA CONSULTADA
AMAE educando no 242 – Abril 1994
Anais do I Congresso Baiano de Apicultura , Bahia, Ilhéus 4 a 7 de julho de 2000 – Ilhéus : Editus, 2001. 112 p.
Chauvin, R. 1968 . Traité de biologie de 1 abeille. Vol III. Paris: Masson et Cie. 400p.
Couto, R. H. N. Apicultura: manejo e produtos. Jaboticabal: FUNEP, 1996 154 p.
Magalhães, E. O. – Apicultura para Iniciantes, Bahia – 1999. 50 p.
Moreira, A. S. . Apicultura. Coordenadoria de Assistência Técnica Integral, 1996. 67 p. (Documento Técnico, 202)
MÉNDEZ, Ricardo. Geografia Econômica. Madrid: Sintesis, 1998.
Ediney de Oliveira Magalhães
Eng.Agrônomo – MSc Ceplac/Cepec/Secen/Apicultura |
Tags
Artigos