Compreender os animais como seres capazes de sentir dor é o primeiro passo para promover a empatia e o entendimento dos benefícios do bem-estar animal. É essencial haver conscientização e mudanças de atitudes em relação aos animais, tanto na cadeia produtiva quanto com animais de companhia. Para desmistificar o conceito, Filipe Dalla Costa, coordenador de bem-estar animal da MSD Saúde Animal, aponta alguns mitos e verdades que muitas vezes levam a interpretações equivocadas.
Um exemplo de interpretação inadequada é a ideia de que bem-estar animal se resume a fazer carinho e abraçar os animais. Na realidade, o bem-estar animal é uma ciência que leva em conta a relação humano-animal, alimentação adequada, ambiência confortável, boa saúde e capacidade de expressão dos comportamentos para alcançar um nível satisfatório de estado físico e mental. Por isso, é fundamental conhecer o comportamento natural de cada espécie para evitar situações de estresse desnecessárias.
"Bem-Estar animal é modismo, já vai passar"
Outro mito é pensar que o bem-estar animal é apenas um modismo passageiro. Na verdade, ao garantir uma vida digna aos animais, há benefícios para todos os envolvidos, desde o produtor até o meio ambiente.
Outro ponto importante é que ter equipamentos modernos não é garantia de bem-estar animal. É preciso levar em conta a interação entre alimentação, ambiência, saúde e comportamento para alcançar um estado físico e mental satisfatório para os animais. Sistemas simples e sem tecnologia também podem ter melhores níveis de bem-estar animal, desde que bem manejados.
Desse modo, é necessário ter uma compreensão mais aprofundada do conceito de bem-estar animal para evitar informações incorretas e propagar práticas que realmente promovam o bem-estar dos animais.
Filipe é um médico-veterinário que trabalha com bem-estar animal na produção animal. Ele acredita que há muitos mitos sobre esse tema, e que é importante esclarecê-los para a cadeia produtiva.
“O sistema de produção extensivo é sempre melhor do que o intensivo em questões de bem-estar animal”
O público em geral tende a associar animais em seu ambiente natural a níveis elevados de bem-estar animal. No entanto, apenas o modelo de produção não é garantia disso. Sistemas intensivos e extensivos podem ter níveis de bem-estar animal adequados, dependendo de como são manejados. Por exemplo: o sistema extensivo de criação de gado a pasto pode expor os animais a situações de alta incidência de raios solares, estresse térmico, dificuldades de acesso à água quando muito longe do recurso e predadores. Já no sistema intensivo confinado, os animais têm uma alimentação em quantidade e qualidade corretas, sem disputa, controle de ambiência, com temperatura e umidade adequadas, bons índices de comportamento e saúde.
“Sistemas alternativos de produção com acesso a áreas externas garantem melhor bem-estar aos animais”
O bem-estar dos animais depende da harmonia entre os cinco domínios (boa alimentação, ambiência, saúde, comportamento, estado físico e mental). Geralmente, os sistemas alternativos podem melhorar a expressão de comportamentos naturais quando comparados aos sistemas convencionais não enriquecidos. No entanto, podem apresentar maior dificuldade de controle de ectoparasitas e proteção contra presas. Assim, é importante fazer uma avaliação holística dos sistemas para determinar como melhorar cada realidade.
“Bem-estar animal não dá lucro!”
Bem-estar animal pode, sim, gerar lucro. Por meio da redução do estresse dos animais, há uma melhoria da saúde, menor ocorrência de enfermidades, lesões, mortalidade e desperdício de recursos, e mais qualidade do produto final. Além disso, o risco de acidentes com manejadores é menor. Melhorar o bem-estar dos animais é trabalhar de forma mais ética, responsável e lucrativa.
“O consumidor não paga a mais por bem-estar animal”
As pessoas estão cada vez mais interessadas em conhecer o que consomem e têm buscado de forma proativa informações. Elas se interessam pela forma como as cadeias produtivas se comportam e quem são os componentes que fazem parte daqueles modos de produção. A questão do bem-estar animal vai ao encontro dessas iniciativas e conversa diretamente com o consumidor, o que dá mais credibilidade e gera ainda mais confiança na cadeia como um todo.
Filipe fecha os exemplos ressaltando que é preciso entender que cada ação e atitude que as pessoas têm pode influenciar no bem-estar animal e na produtividade. “Lembre-se de que os animais se comunicam por meio do comportamento, e quando eles confiam em você, saberá se estão saudáveis”, afirma.
Filipe enfatiza a importância de disseminar informações corretas sobre bem-estar animal para toda a cadeia produtiva, desde o produtor até o consumidor final. É preciso conscientizar as pessoas de que o bem-estar animal é um assunto complexo e que envolve diversos aspectos, como nutrição, saúde, comportamento e ambiente.
O médico-veterinário ressalta que, além de ser uma questão ética e moral, o bem-estar animal também pode trazer benefícios econômicos para a cadeia produtiva. Quando os animais são tratados com respeito e cuidado, eles se tornam mais saudáveis e produtivos, o que pode aumentar a qualidade e a rentabilidade dos produtos.
No entanto, ainda há muito trabalho a ser feito para melhorar o bem-estar animal em todo o mundo. Muitos animais ainda são criados em condições precárias, sem acesso adequado a alimentos, água e abrigo, o que pode levar a problemas de saúde e comportamentais. Além disso, muitos animais são submetidos a práticas cruéis, como a mutilação e o confinamento extremo.
Por isso, é fundamental que governos, empresas e consumidores se unam em prol do bem-estar animal. É preciso criar políticas e regulamentações que garantam condições adequadas de criação e transporte de animais, além de incentivar práticas mais humanitárias na indústria alimentícia. Ao mesmo tempo, é importante que os consumidores sejam informados sobre as condições de criação dos animais e sejam incentivados a escolher produtos provenientes de sistemas que priorizem o bem-estar animal.
Em resumo, o bem-estar animal é um assunto complexo e importante que envolve diversos aspectos da cadeia produtiva. É fundamental que todos os envolvidos trabalhem juntos para garantir condições adequadas de criação e transporte de animais, além de incentivar práticas mais humanitárias na indústria alimentícia. Ao fazer isso, estaremos promovendo não apenas o bem-estar animal, mas também a saúde, o meio ambiente e a sustentabilidade da cadeia produtiva como um todo.
Fonte: Ketchum